sábado, 2 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis – Crítica

Dirigido por Tom Hooper – o mesmo de O Discurso do Rei, de 2011 – o filme, que é baseado no famoso musical homónimo, que por sua vez é baseado no livro de Victor Hugo, definitivamente não é para qualquer um. E eu não digo isso em um ataque elitista/arrogante da minha parte (ataques esses muito comuns).  Digo porque Os Miseráveis exige do espectador uma preparação (paciência? dedicação?) que outros filmes não exigem.

É necessário, por exemplo, entender que o filme é baseado numa história de um dos principais nomes do Romantismo Literário e num musical teatral, o que resulta numa teatralidade (jura?) e num sentimentalismo que está ausente do cinema atualmente. Além disso, não custa lembrar que Os Miseráveis é um musical cantado o tempo todo (diferente de obras populares modernas, como Glee), o que causará uma estranheza nos espectadores que estão vendo Os Miseráveis pela primeira vez.
 
Mas vamos deixar isso pra lá e tocar o barco, porque temos muito o que falar sobre Os Miseráveis, começando pelo seu elenco. O longa de Tom Hooper conta com uma escalação de atores muito competente. Os dois que mais chamam a atenção são Hugh Jackman, na pele do protagonista Jean Valjean, e Anne Hathaway, vivendo a sofrida Fantine. Jackman, mais conhecido por filmes de ação como X-Men e Gigantes de Aço, se sai muito bem cantando (ele sempre comentou ser fã de musicais) e faz do seu Jean Valjean a figura que lidera o musical. Porém, quem realmente rouba a cena e brilha na tela é Anne Hathaway. Recém-saída do uniforme de Mulher-Gato no último filme do Batman (onde ela já tinha se destacado como uma das melhores performances do longa), a Fantine de Anne Hathaway é absolutamente extraordinária e a sua performance atinge o seu pináculo quando ela vive I Dreamed a Dream, canção mais famosa do musical. Complementando o elenco, vemos uma Amanda Seyfried com muito pouco pra fazer como Cosette, um Eddie Redmayne fazendo um Marius interessante (mas que também não chega a tocar muito o espectador), a dupla Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen servindo bem como escapes cômicos e o talentoso Russell Crowe um pouco fora do tom (tum dum psst) do resto do elenco, como o Inspetor Javert. Ah, não posso esquecer de mencionar que fiquei surpreso com a Eponine de Samantha Barks, que veio do concerto de comemoração dos 25 anos do musical, em 2010.

Outro ponto de Os Musicais que vale gastar um parágrafo em elogios é na Direção de Arte do filme, que criou uma França do início do século XIX que só atende pelo adjetivo de “teatralmente bela”. Todos os outros aspectos da caracterização do filme, como Figurino, Maquiagem e afins, seguem essa linha teatral (não dá pra usar outra palavra nesse caso), que beira o extremismo gráfico.

Porém, como nem tudo são flores em Os Miseráveis (uma pausa para rir da minha piada muito engraçada), há algo que precisa ser mencionado em palavras não-tão-boas: a direção de Tom Hooper. Ainda que Hooper tenha feito um bom trabalho em seus dois últimos filmes (O Discurso do Rei e Maldito Futebol Clube) e que Os Miseráveis seja um bom filme depois de pesar os prós e contras, nós ainda temos algo para reclamar. Em primeiro lugar, Hooper tem um problema com a câmera nesse longa. Ela simplesmente não pára quieta em nenhum momento! Está sempre voando pra cá, pra lá, dando closes absurdamente próximos dos atores, voltando a voar pra cá e pra lá… é incômodo. O segundo problema é o ritmo usado por Hooper. Ou melhor dizendo: falta de. O diretor se perde em cortes e na composição de algumas cenas, não conseguindo desenvolver a fluidez necessária que Os Miseráveis pede. E, quando se tem um musical cantado por completo com quase 3 horas de duração, falta de ritmo é um problema grave.

Resumindo tudo pra fechar o texto, Os Miseráveis tem uma orquestra composta por músicos talentosos, equipamentos da melhor qualidade e estão tocando uma das mais conceituadas sinfonias possíveis. Mas o Maestro pisa na bola, perde o tom e dá closes absurdos nos atores (não achei uma metáfora pra isso).




 

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