domingo, 9 de setembro de 2012

"Os Observadores" - Revolution (ESTREIA)

 J. J. Abrams atinge o fundo do poço

Com tantas séries com potencial a serem lançadas anualmente, além daquelas que jamais vimos e pertencem à lista de espera de qualquer fã de programas televisivos, certamente não há mais tempo para ser desperdiçado com bobagens que surgem aos borbotões, e Revolution é uma destas. Ainda que J. J. Abrams tenha revelado instantes de brilhantismo ao longo de sua carreira meteórica, chegou o momento do diretor, produtor, roteirista e criador de inúmeras obras começar a rever seus conceitos de “grandes idéias”.

O que incomoda nesta altura é certamente a presão. Julgando-se capaz de criar elaboradas tramas (a maioria nem tanto elaborada) que se cercam de insolúveis mistérios, Abrams não só vem reciclando sua desgastada fórmula como também parece, pouco a pouco, esquecer que o público cansou de produções de um só foco que, evidentemente, tentarão se espichar ao máximo por longas e exaustivas temporadas, bastando tomarmos como exemplo a cancelada The Event, que se anunciava como nova Lost e culminou em um cancelamento apressado.
 

Sem querer prolongar a discussão que cabe em um texto à parte, há que se avisar que Revolution ainda consegue subir mais um degrau na escala nas seriés do “gênero” descartável ao construir uma trama que deveria pautar pela urgência, pelo sombrio e, principalmente, por uma visão apocalíptica, mas passa longe de todas essas e outras características, já que graças a uma direção de arte capenga e uma fotografia “arcoirisada”de Drew Monahan e dos Davids Moxness e Stockton, acaba nos dando uma visão idílica do fim de mundo, onde os pássaros cantam, as plantas possuem todas um verde belíssimo e o sol brilha de maneira intensa, sem falar, é claro, dos cenários que tentam representar destruição de um mundo anterior, mas de tão vergonhosos, dada a artificialidade com que são construídos, só nos remetem a produções saídas de uma novela das sete. E não me surpreenderia se alguns dos objetos em cena fossem recauchutados de outras produções.

E já que estamos falando de imersão nesse mundo sem qualquer tipo de energia há quinze anos, é preciso citar também os brilhantes figurino e maquilagem, que tornam os atores verdadeiros modelos em passarelas com indumentárias asseadas e novas, cabelos sempre penteados, raras barbas por fazer e muita maquilagem para deixar as protagonistas de bem com a câmera.

Como se não bastasse, o frágil guião de Eric Kripke ainda insiste, mesmo que já estejamos completamente alheios àquele mundo quase onírico, que diversas coincidências são extremamente prováveis. Logo, não é de se assustar quando vemos o jovem Jimmy, asmático, apenas para satisfazer às necessidades de uma história vagabunda, encontrar em sua fuga justamente um campo florido onde há pólen em suspensão, que o leva, obviamente, a um ataque de asma. Curiosamente, perto desse campo há uma residência, e dentro dela, uma simpática senhora que, adivinhem só, possui bombinhas para asma! Mas como se o circo ainda não estivesse montado, Kripke ainda deixa o melhor para o final do seu piloto, quando sabemos que a senhora hospitaleira está extremamente envolvida com a tal trama conspiratória furada que Revolution tenta estabelecer.

Com todos os aspectos técnicos falhados e ainda com um script mais falso que vendedor de seguros, será que seria pedir demais por atuações convincentes? No caso do programa em questão, a resposta é sim, visto que Abrams e seus produtores resolveram fornecer o pacote completo. Com exceção dos bons e únicos minutos iniciais do enredo, não há um só instante em que consigamos captar envolvimento e desenvolvimento de atores e personagens, principalmente entre o núcleo mais jovem do elenco. Só a título de exemplo, numa cena onde a protagonista dialoga com seu tio, o momento a que chega a beirar a comicidade dada a artificialidade nas expressões de Tracy Spiridakos, que exagera nas caretas e inflexões ao ponto de acharmos que sua personagem está para cuspir um alien.

 

Salvando-se apenas por algumas cenas de ação de propriedade de Jon Favreau, o episódio-piloto desta série, Revolution escancara a sua realidade até para os que não desejarem enxergá-la: apenas uma cena introdutória de poucos segundos que surge interessante, somada a quarenta e três minutos de mais do mesmo, onde draminhas artificiais se desenvolvem, piadinhas com nerds surgem a todo instante, e uma história reciclada e liquidificada com tudo o que há de pior na TV nos é entregue numa embalagem de “a nova obra revolucionária de J. J. Abrams”. 


 Bem, caros leitores, quanto a vocês, não sei. Mas minha experiência esta série não passará de uma primeira e péssima temporada! Voltamos para a semana dia 16 setembro (domingo).
Título original: «Revolution»
Género: Drama, Ficção Cientifica, Ação/Aventura, Misterio
Episódios: 1 episódio de aproximadamente 43 minutos (PILOTO)
Autor: Eric Kripke
Elenco: JD Pardo, Zak Orth, Maria Howell, David Lyons, Daniella Alonso, Billy Burke, Giancarlo Esposito, Tim Guinee, Elizabeth Mitchell e Tracy Spiridakos

Produtores Executivos: J. J. Abrams, Bryan Burk, Eric Kripke
Produção: Warner Bros. Television, Bad Robot Productions



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